A gota úrica é uma síndrome clínica causada por uma resposta inflamatória a cristais de monourato de sódio (MUS), que ocorre em pessoas com níveis elevados de ácido úrico. Existem formas agudas e crónicas. As formas agudas surgem como crises súbitas e autolimitadas de artrite (tumefacção, rubor, dor e calor de uma articulação) às quais chamamos artrite gotosa aguda, enquanto as formas crónicas resultam na deposição de agregados de cristais de MUS sob a forma de tofos intra e periarticulares com progressiva destruição articular.
A esta forma crónica de gota chamamos gota tofácea crónica. Para além das manifestações articulares a gota úrica apresenta manifestações renais (litíase renal e insuficiência renal) e metabólicas (hipertensão arterial, hipertrigliceridemia). Os doentes são frequentemente obesos, com elevados consumos de álcool e com algum grau de insulinorresistência.
A doença foi identificada primeiramente numa múmia egípcia nos tempos da Babilónia, sendo descrita inicialmente em trabalhos de Hipócrates. A tendência familiar da doença foi mencionada por Seneca no sec.I DC e o primeiro tofo foi descrito por Galeno no sec. III DC. O termo “gota” deriva do latim gutta (sec. XIII DC) e baseia-se na crença de que um veneno caía gota a gota sobre a articulação. Mas só no século XVII (Van Leeuwenhoek, 1679), com o aparecimento do microscópio óptico, se identificaram os cristais de monourato de sódio e posteriormente o seu papel na causalidade da doença. Em 1683 (Sydenham) foi descrita uma crise aguda de gota; em 1776 (Scheele) foi descoberto o ácido úrico e em 1859 (Garrod) mostrou-se que estes doentes tinham níveis elevados de ácido úrico no sangue.
A primeira descrição radiológica de gota aconteceu em 1896 (Huber) e a presença de cristais de MUS no líquido intraarticular (líquido sinovial) foi comprovada já no sec. XX, confirmando o seu papel patogénico.