Um novo estudo aponta uma nova explicação para o facto de não guardarmos recordações dos primeiros tempos de infância
As memórias de quando eramos bebés podem ter sido "limpas" com o nascimento de novas células cerebrais. A conclusão é de estudo com roedores e pode ser a primeira explicação realmente científica para um mistério que não tem sido alvo de investigações aprofundadas.
"É fascinante", considera o neurocientista e psiquiatra norte-americano Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional para a Saúde Mental de Bethesda, no estado de Maryland. "Ainda ninguém tinha olhado para tisto com grande atenção", elogia, a propósito do estudo publicado agora na Science.
Há mais de 100 anos, Freud especulava que a tendência humana para esquecer os primeiros anos de vida teria uma origem psicosexual.
Mais tarde, acreditou-se que as memórias estariam ligads à linguagem, uma vez que o mais comum é as crianças começarem a guardar recordações a partir do momento em que começam a falar.
"O mais estranho é que a maioria dos animais também tem amnésia infantil. Portanto a linguagem não pode ser a única explicação", justifica Sheena Josselyn, do Hispital pediátrico de Toronto, co-autora do estudo.
Inspirados na observação do filho, Sheena Josselyn e o marido, o outro autor da investigação, questionaram-se porque os mais pequenos não conseguem recordar determinadas situações e eventos. Estas memórias, como o que comeu ao jantar, por exemplo, envolvem o hipocampo, que abriga uma "fábrica de células", produzindo novos neurónios, que os cientistas acreditam ter um papel nas recordações. A produção vai abrandando, no entanto, ao longo da infância, coincidindo com a formação de memórias de longo prazo.
Com esta ideia em mente, a equipa envolvida neste estudo virou-se para ratos de laboratório, que também têm um "espaço em branco" no que diz respeito aos primeiros tempos de vida e também registam um decréscimo na produção de neurónio à medida que crescem. E esta queda também coincide com a capacidade de os roedores se lembrarem de situações assustadores - os ratos adultos continuaram com medo de um espaço específico onde tinham tido recebidos choques leves, mesmo 28 dias depois, enquanto os animais mais jovens iam perdendo o medo logo no dia seguinte.
Depois, o grupo fez outra experiência: Submeteu os ratos adultos às mesmas experiências desagradáveis e depois deixou-os correr durante semanas, sabendo que correr estimula naturalmente o nascimento de novos neurónios. No final desse período, exercício, foi notório que o exercídio ajudou os roedores a esquecer o medo do local dos choques.
E o contrário também resultou: Abrandar o nascimento de neurónios em ratos mais jovens manteve a recordação do medo.
"Talvez esquecer não seja uma coisa má", comenta Josselyn. "Talvez seja bom limpar algumas recordações e esquecer algumas coisas que não são muito importantes".
O neurocientista, Richard Morris, da Universidade de Edimburgo, encontra, por seu lado, uma comparação: "Talvez a neurogénese seja o sistema de limpeza de primavera do hipocampo".