Sandra Morais Cardoso, investigadora da Universidade de Coimbra, é a vencedora da segunda edição do Prémio Janssen Neurociências, no valor de 50 mil euros, pelo trabalho científico que permitiu identificar um novo alvo terapêutico na Doença de Parkinson, relacionado com o tráfego intra-celular. O prémio será entregue esta terça-feira, 18 de Março, em Lisboa.
A investigadora (na foto abaixo) e a sua equipa estudaram células com mitocôndrias (organelos celulares que são uma fonte de energia para as células vivas) de doentes de Parkinson, e mostraram que a sua disfunção compromete as “auto-estradas” intracelulares (os microtúbulos), que ligam os componentes dos neurónios e que permitem fazer o transporte dentro da célula.
Em comunicado enviado ao Boas Notícias, os investigadores explicam que identificaram que a alteração das mitocôndrias observada nas células dos doentes induzia a ativação de uma enzima chave, a Sirtuína 2, sendo esta a responsável pela modificação da tubulina, uma peça fundamental das “auto-estradas” do neurónio.
A consequente alteração no transporte neuronal compromete os mecanismos de controlo da célula o que lesa muitos dos seus componentes. Um destes mecanismos é a autofagia, um processo que em neurónios de pessoas saudáveis serve para eliminar o “lixo biológico” que se acumula nas células ao longo da vida e que, se não for degradado, pode conduzir à morte das células.
Molécula melhora funcionamento celular
Uma vez que essas vias estão interrompidas, o transporte é pouco eficiente o que faz com que diferentes componentes celulares se acumulem em determinada parte da célula, comprometendo o funcionamento dos neurónios, o que está na base da doença de Parkinson.
Nos modelos celulares, quando os investigadores utilizaram uma molécula que atua ao nível dos microtúbulos, verificaram melhorias no tráfego celular e um decréscimo na acumulação de componentes lesivos, como proteínas e mitocôndrias disfuncionais.
Concluiu-se assim que o próprio processo de transporte dependente de tubulina nos neurónios é, por si só, um alvo terapêutico para a doença de Parkinson, numa descoberta científica pioneira a nível mundial.
Em declarações ao Boas Notícias, Sandra Morais Cardoso explicou que esta molécula, a NAP, já está a ser usada em testes clínicos para tratar défice cognitivo ligeiro. Contudo, no âmbito desta investigação da doença de Parkinson, a equipa ainda está a aplicar a molécula em modelos celulares.
Será, portanto, ainda necessário verificar a segurança desta terapêutica em testes clínicos antes de ser poder desenvolver um tratamento para humanos. Neste caso, a molecula poderá ser administrada de forma intranasal.
O Prémio de Investigação Janssen Neurociências é uma iniciativa da Janssen Portugal, que pretende distinguir e incentivar a produção de conhecimento científico de qualidade no País na área das Neurociências. Conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de Neurociências, da Sociedade Portuguesa de Neurologia e da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.
Os trabalhos submetidos nesta segunda edição foram analisados por uma Comissão de Avaliação constituída por vários especialistas e presidida por João Marques Teixeira (presidente), Psiquiatra e Diretor do Laboratório de Neuropsicofisiologia da Universidade do Porto.