Um em cada cinco dos pacientes que dá entrada nos serviços de urgência com sintomas leves de enfarte agudo do miocárdio são triados como casos não urgentes, de acordo com o presidente da Associação Portuguesa de Cardiologia de Intervenção (APCI).
Helder Pereira falava à agência Lusa em jeito de balanço de um ano de atividade do programa Europeu Stent For Life em Portugal, que tem como objetivo diminuir a mortalidade por enfarte agudo do miocárdio através de uma ação rápida, quer no pedido de ajuda dos doentes, quer na intervenção médica, que passa pela realização de angioplastias.
O presidente da APCI referiu que a triagem de Manchester, sistema de triagem por prioridade nas urgências hospitalares, pode representar nestes casos um entrave, porque se o doente se dirige pelos seus próprios meios ao hospital e entra com uma dor torácica leve ou uma dor abdominal alta não traumática pode ser triado como não urgente, o que acontece em 21% dos casos.
Uma vez que não é possível alterar sistema de triagem existente, Helder Pereira sugere a presença de técnicos de cardiopneumologia nas urgências, para fazerem eletrocardiogramas e reportarem os doentes que a triagem não deteta.
No entanto, o especialista admite que este é “um problema menor” no âmbito do programa Stent For Life, que tem conhecido “grandes melhorias” desde que foi implementado em Portugal.
O principal problema com que este projeto se tem debatido, e que de certa forma está associado às urgências hospitalares, é o atraso no atendimento do doente por este se deslocar pelos seus meios para um hospital quando sente dor no peito, em vez de chamar o INEM.
“Temos registado progressos sobretudo no atraso do atendimento do doente, que era uma das principais barreiras. De 33% de doentes que ligavam para INEM, passou-se para 38%. Parece pouco mas é um progresso significativo, porque em situações de enfarte os minutos contam muito”, disse.
Relativamente à mediana de tempo desde que começa a dor até pedir ajuda, esta diminui de 118 minutos para 102 minutos, e a percentagem de pessoas que se dirigiam pelos seus meios para o hospital desceu de 60% para 40%.
O responsável pelo Stent For Life em Portugal destaca que “este programa tem como objetivo conseguir chegar ao número de 600 angioplastias primárias por milhão, por ano, e neste momento já se ultrapassou os 300 por milhão”.