A síndrome de Asperger (SA) é uma perturbação global do desenvolvimento, de etiologia ainda desconhecida, cujas principais características são: deficiente aquisição de competências sociais (causadora de comportamentos desadequados e de uma grande dificuldade nas relações interpessoais); inteligência normal ou acima da média com fraca coordenação e percepção grafo-espacial; interesses restritos ou preocupações obsessivas. Os sintomas tornam-se evidentes a partir do 3º ano de vida.
Foi descrito pela primeira vez em 1944 por Hans Asperger, pediatra vienense. Asperger considerava a síndrome que havia observado como uma perturbação da personalidade, denominando-a de “psicopatia autística”. De acordo com as suas observações, os indivíduos com esta perturbação começavam a falar aproximadamente na mesma altura que as crianças sem a doença, adquirindo um controlo completo da gramática mais cedo ou mais tarde, mas mantendo muitas vezes dificuldades na utilização de pronomes. O conteúdo do discurso era muitas vezes anormal ou pedante, consistindo em longas considerações sobre algum assunto especial. Algumas palavras ou frases eram repetidas de modo estereotipado. Outras características descritas por Asperger incluíam a dificuldade na interacção social, ignorando regras ou códigos de conduta e mostrando dificuldade em entender o sentimento alheio ou as consequências dos seus actos. A par de tudo isto, muitos apresentavam capacidades excelentes de pensamento abstracto, sendo alguns deles detentores de originalidade e criatividade em áreas restritas.
No entanto, só em 1981 foi esta perturbação referida na literatura inglesa, quando Lorna Wing publicou um artigo muito influente, no qual descreve uma série de casos clínicos. Wing observou que, da sua amostra de 34 doentes, metade tinha começado a falar tarde. Muitos deles tinham uma história parca em comportamentos comunicativos na infância e excelentes capacidades ao nível da memória. Wing usou pela primeira vez o termo “síndrome de Asperger”, sugerindo que este fosse considerado parte do espectro autista, acreditando tratar-se de uma forma ligeira de autismo em crianças inteligentes.
Em 1983, Wing enuncia as principais características do SA:
• falta de empatia;
• interacção social unidireccional, ingénua e inapropriada;
• pouca ou nenhuma capacidade de criar amizades;
• discurso repetitivo e pedante;
• parca comunicação não verbal;
• interesse intenso em determinados assuntos;
• movimentos pouco coordenados e posturas estranhas.
A partir dos anos 90, a síndrome de Asperger ganha notoriedade, integrando a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde – 10ª Revisão (ICD-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais – IV (DSM-IV).
Actualmente, o ponto de vista mais prevalente é o de considerar a síndrome de Asperger como uma variante do autismo e uma Perturbação Global Invasiva do Desenvolvimento. Alguns autores insistem na classificação da síndrome de Asperger como entidade nosológica distinta dentro do grupo das Perturbações Globais do Desenvolvimento, enquanto outros continuam a defender que deve ser considerado um autismo de “alto funcionamento”.
Em termos epidemiológicos, verificam-se discrepâncias nos valores de prevalência encontrados na literatura, o que se relaciona com a utilização de diferentes critérios diagnósticos. Um estudo epidemiológico determinou uma prevalência de 3,6 por 1.000 crianças com um ratio masculino:feminino de 4:1. Noutra publicação, a prevalência mencionada, incluindo casos prováveis de diagnóstico, era de 7,1 por 1.000 crianças, com um ratio masculino:feminino de 2,3:1; quando se aplicava de forma rigorosa os critérios dos manuais internacionais, o valor diminuía drasticamente: 1 para 10.000 crianças, com uma predominância masculina de 9:1. Alguns autores concluem que o SA é 5 vezes mais comum que o autismo clássico. Ao longo das últimas décadas, os estudos epidemiológicos publicados têm vindo a denotar um marcado aumento na prevalência estimada quer de autismo clássico, quer de outras patologias do espectro autista.